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Em Fórum Brasil-Portugal, ministro defende Mercosul como “parceiro natural” da UE

Neste dia 23, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, esteve na abertura do Fórum “Perspetivas de Futuro entre Portugal e o Brasil”, na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa.

O encontro inscreve-se nas Comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil e contou com a presença de várias personalidades da cena política portuguesa e brasileira, bem como da sociedade civil de ambos os países.

O ministro Cravinho defendeu que, num momento em que a União Europeia (UE) procura diversificar fornecedores e mercados, o Mercosul constitui um parceiro natural, cuja importância não pode “subestimar”.

Para Portugal, “o delicado contexto atual leva-nos a valorizar, ainda mais, as vantagens mútuas do Acordo entre a UE e o Mercosul”, afirmou João Gomes Cravinho, sem se referir diretamente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

“Num momento em que a UE procura uma diversificação de fornecedores e de mercados, para assegurar maior autonomia estratégica, o Mercosul constitui um parceiro natural, cuja importância não podemos continuar a subestimar”, acrescentou o governante, na conferência Brasil-Portugal.

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um bloco econômico sul-americano, criado em 1991, do qual são membros fundadores o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que há anos procura fechar um acordo com a UE, que daria um impulso às economias.

Mas ainda, no quadro da União Europeia, João Gomes Cravinho considerou que também a parceria estratégica da UE com o Brasil tem sido “desaproveitada”.

O ministro sublinhou que, no contexto da UE, Portugal “soube sempre utilizar a sua posição a favor do adensamento das relações com o Brasil”.

Por isso, foi durante a presidência portuguesa, de 2007, que se institui “a parceria estratégica com o Brasil”, frisou.

Porém, na opinião do chefe da diplomacia portuguesa esta é “uma parceria que tem sido manifestamente desaproveitada, por uma diversidade de razões e que retém ainda hoje a capacidade de colocar o Brasil como o grande interlocutor da Europa para a América do Sul”.

Quanto às relações bilaterais entre os dois países, o ministro realçou que se acentua “neste contexto de perturbação mundial, a sensatez de uma característica central partilhada pelas políticas externas brasileira e portuguesa, que é a intensa participação em múltiplos quadros multilaterais, no reconhecimento da imprescindibilidade do multilateralismo, da cooperação internacional e de uma ordem mundial baseada em regras”.

“Portugal encontra-se com o Brasil em cada pilar da política externa portuguesa. Somos atlânticos, somos ibero-americanos e somos lusófonos”, afirmou.

Na dimensão atlântica, “Portugal e o Brasil estão unidos por um oceano ao qual reconhecemos relevância crescente, no quadro de desafios novos, complexos e verdadeiramente existenciais”, referiu.

Segundo João Gomes Cravinho “uma parte desses desafios pode encontrar resposta no Atlantic Centre, instituição da qual Portugal e o Brasil são cofundadores” e “uma outra parte dos imensos desafios oceânicos será trabalhado em profundidade na grande Cimeira dos Oceanos”, que Lisboa acolhe durante a próxima semana.

“Em qualquer dos âmbitos, novas perspetivas se abrem para a relação luso-brasileira”, realçou.

Já no plano da Iberoamérica, o ministro considerou que Portugal e o Brasil partilham um “vasto espaço estratégico com os países de língua castelhana, onde se aconselha sem dúvida uma reflexão conjunta luso-brasileira quanto ao potencial de aproveitamento de oportunidades e geração de sinergias”.

“O valor da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] tem vindo a tornar-se cada vez mais reconhecido internacionalmente – e prova disso é o número cada vez maior de Estados que se tornam observadores associados” da organização, considerou.

“Porque querem interagir connosco e reforçar o valor dos laços linguísticos, culturais e históricos que unem a lusofonia e que criam dinâmicas únicas para o relacionamento com terceiros”, frisou.

Mas também neste plano, defendeu que urge encontrar “a convergência de visões e vontades” que “permite potenciar” as nossas “realidades separadas”.

O ministro referiu ainda que “apesar do hiato imposto pela pandemia”, Portugal tem “hoje uma verdadeira ponte aérea” com o Brasil, composta por mais de 74 voos semanais da TAP, sendo esta causa e consequência de “uma dinâmica que renova e reinventa” o relacionamento entre os dois países.

Essa dinâmica, segundo Gomes Cravinho, também se reflete nas relações econômicas e comerciais.

Por isso, “o Brasil é o primeiro mercado latino-americano para as exportações de bens portugueses e é já o quarto maior destino de exportação de mercadorias (fora da UE)”.

“Resta, contudo, a convicção de que o potencial está muito longe de cumprido, e que as saudades do futuro comportam visões de outro perfil para as nossas trocas, um perfil tecnológico, criativo, consentâneo com as transformações geo-econômicas globais”, defendeu.

Neste ponto, João Gomes Cravinho sublinhou ainda o potencial do porto de Sines, “cuja relevância estratégica, há muito notada, ganha nova saliência nos tempos conturbados que vivemos”.

O evento acontece até dia 24 quando personalidades pretendem refletir sobre as relações entre os dois países, de uma forma institucional, mas também participada, global e virada para o futuro, na sua dimensão estratégica e política, econômica, e cultural e científica.

Estiveram ainda na abertura do evento Francisco Ribeiro Telles, Coordenador das Comemorações dos 200 anos da Independência em Portugal, Gonçalo Mello Mourão, Coordenador do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência do Brasil, Raimundo Carreiro, Embaixador do Brasil em Portugal, assim como ex-presidentes da República, Michel Temer, Aníbal Cavaco Silva e Antonio Ramalho Eanes.

Fonte: Mundo Lusíada

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