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Educação e Lusofonia [Colégio Português de São Paulo]

COLUNA - António Montenegro Fiúza - Chief Executive Officer do Grupo Lusófona Brasil

«Sol disponta’ 

Num leque radioso 

Ceu di mindelo infeita’ 

Cu sê vistido luminoso 

 

Ceu visti de azul 

Bordado di oro 

Mindelo de norte a sul 

Visti di gala e flor 

 

Gente di Mindelo 

Nô abri nôs broce 

Nô pô coraçon na mon 

Pa nô bem da’l um abraço 

 

(…)Um abraço de morabeza 

Dess povo de Sâo Vicente 

Ess home de alma grande 

Di rosto sabe e contente»  

Berço de Morabeza, B.Leza  

 

A beleza da lusofonia reside, entre milhentas outras coisas, na capacidade de traduzirmos canções e poemas, de e para qualquer uma das variantes, sem perder a melodia, o ritmo e o lirismo. Tanto a morfologia quanto a sintaxe são semelhantes, quando não iguais… mudando, apenas, algumas expressões, dizeres idiomáticos. 

Do coração de Cabo Verde, arquipélago banhado pelo Oceano Atlântico e ladeando o continente africano pelo oeste, chega-nos uma das expressões mais queridas, mas de mais complexa tradução: morabeza. 

Perguntado o dicionário, respondeu que se trata de um substantivo feminino, que é a qualidade de quem é amável, delicado e gentil, sinônimo de amabilidade e afabilidade. Da vivência que tive, nessas pequenas ilhas, percebi que essa definição está aquém da sua real dimensão. 

Morabeza é um estado de espírito, é a hospitalidade característica do povo das ilhas, que nos acolhe em seus braços resilientes e empáticos; morabeza é um estilo de vida, surgida em indivíduos com diferentes heranças genéticas, os quais se encontraram – num momento de gloriosa coincidência história – no coração do Atlântico e deram origem a um dos povos mais peculiares do mundo.   

Morabeza é a aceitação das coisas presentes sem resistência, mas simultaneamente o enfrentar dos desafios que surgem, inadvertidamente, ao voltar de cada esquina. 

É o sentimento que cresce no coração daqueles que lutaram por séculos contra todas as intempéries possíveis: estiagem, gafanhotos, piratas e saqueadores – mas que nunca desistiram… ao olharem para o seu semelhante, com as suas lutas internas, suas dores e seus pesares, dele se apiedam e oferecem-lhe as suas maiores armas: um sorriso e uma força inabalável. 

Fonte: O Imparcial

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